ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Um olhar sobre 3 realizadoras portuguesas: Lamas, Sousa Dias, César |
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Autor | Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos |
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Resumo Expandido | As obras das cineastas-artistas Susana de Sousa Dias ("Luz obscura", HD vídeo, 1h 17min. 2017), Salomé Lamas ("VHS - Video Home System", HD vídeo 16.9, color, 39 min, 2010/12) e Filipa César ("Cacheu", 16 mm transfer HD, colour, 10min, 2012), representam a presença de uma pesquisa estética permanente, através de uma radicalização em relação à linguagem, com o cruzamento entre o documentário e as artes visuais. Vamos contextualizar essas 3 obras dentro do que pode ser considerado como cinema experimental apontando para as rupturas e para um tipo de audiovisual que busca chegar a sensações pungentes a partir de falas, arquivos pessoais e institucionais. Que relação essas diretoras estabelecem com esses arquivos? A própria imagem informativa é questionada na forma como é montada ou pensada como produto final, podendo ser projetada em uma ou mais telas, a serem exibidas na forma tradicional do cinema ou em galerias de arte. A temática apresenta o viés político-militante relacionado às vitórias conseguidas a partir da Revolução dos Cravos, tão presente nos filmes portugueses dos anos 1970, como, as agruras da repressão, o pensamento anti-colonial e como também o arquivo autobiográfico. "Luz obscura" completa a trilogia formada por "Natureza Morta" e "48", onde a relação com arquivos de propaganda da ditadura portuguesa, se resolve aqui através da criação de imagens subjetivas inspiradas pela memória de filhos de prisioneiros políticos, o conteúdo subjetivo das vozes fala sobre sensações e cheiros e na imagem os corpos aparecem fragmentados e o mar com uma textura grossa de um musgo remete a imagem de um líquido interno do corpo. Em "VHS", primeiro filme de Lamas, a diretora parte de uma conversa centrada na existência de uma filmagem feita por sua mãe quando a diretora era criança, onde esta pede que Lamas repita infinitamente a frase “eu estou com sono” até realmente adormecer. Há muito do autobiográfico, característica que demarca uma série de filmes dirigidos por mulheres a partir dos anos 1990 no mundo todo, dentro de uma corrente nomeada como Performática (Bill Nichols). Porém, Lamas propõe o filme como uma Instalação através de 2 telas, uma mostra o diálogo com a mãe a outra o arquivo em vhs. "Cacheu", de César, nos é apresentado na forma de uma palestra performática, realizada em um único plano-sequência onde a performer Joana Barrios dialoga com a projeção de 4 estátuas coloniais que se encontram na Fortaleza de Cacheu, (cidade da Guiné Bissau) e em trechos do filme "Sans Soleil" de Chris Marker e de "Mortu Nega" de Flora Gomes, questionando o significado do colonialismo. “A montagem é um processo que ocorre antes da filmagem, de modo que a produção da imagem é resultado de uma montagem performativa de texto, atuação, projeção de imagem e enquadramento da câmera pelo diretor de fotografia, Matthias Biber.” (Filipa César). Podemos verificar a desconstrução do formato do documentário tradicional à presença de um olhar político, a interseção de práticas com um viés historicamente já expandido dentro da conjuntura dos pós-mídia. Na busca por traçar o que poderia ser detectado como feminino nessas produções nos deparamos com o cinema português dos anos 1970 quando o furacão de liberdade e renovação que atingiu Portugal através da Revolução dos Cravos alcança, principalmente, as mulheres. |
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Bibliografia | CESAR, F. Debate/lecture. Irrelevant Archive. The struggle is not over yet.https://vimeo.com/340635184 |