ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Imagens de alteridade no cinema latino-americano contemporâneo |
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Autor | Luiz Fernando Roos Todeschini |
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Resumo Expandido | Nosso objetivo central é investigar manifestações visuais lidas como alteridade no cinema de ficção latino-americano contemporâneo, no período de 1990 a 2020. O ponto de partida é de que o lugar do olhar foi construído historicamente como lugar privilegiado da alteridade ocidental. Partindo dos filmes em perspectiva comparada, buscamos demonstrar não somente como a alteridade atua como um problema estético para o cinema como também de que forma retrata dimensões éticas e políticas do discurso cinematográfico. Para isto, o trabalho se divide em três momentos. O primeiro trata de estabelecer as bases teórico-metodológicas pela qual o corpus fílmico estabeleceu diálogos, tais como a fenomenologia imagética (Samain, 2012; Piault, 2018), a arqueologia moderno-colonial (Barriendos, 2011; Debray, 1993) e o cinema comparado (Souto, 2016). Acreditamos que a alteridade cinematográfica pode ser identificada na materialidade de um pensamento visual, que, por sua vez, se filia a um repertório de matrizes visuais coloniais comuns à América Latina. Dessa forma, a alteridade torna-se um problema estético para o cinema pois é, antes de tudo, um olhar sobre o mundo como um aparecer-se diante da câmera. O segundo busca reconhecer os outros latino-americanos através de conceitos como “imaginário periférico global”, “dramaturgia do desamparo”, “alterofobia”, “alterocídio” (Mbembe, 2014) e “proximidades compulsórias” (Figueiredo, 2012). Afirmando a instância narrativa como uma topografia das distâncias e de relações de acesso entre os sujeitos fílmicos, nos perguntamos: de que forma nos aproximamos dos outros? E sob quais espaços de poder se determina a “distância correta” a ser mantida entre o eu e o outro? O último apresenta dois modos de aparição de alteridades fílmicas. O primeiro revela o olhar à câmera como modo de enfrentamento e denúncia, ou seja, da “destruição” do gesto cinematográfico como “despertar do ver” em que o sujeito sente seu próprio lugar no olhar (Bonnet, 2018) Esse gesto diacrônico sobrevive em filmes tão distintos como Tentei (Laís Melo, 2017), La Nana (Sebastián Silva, 2009, Argentina), Crónica De Un Niño Solo (Leonardo Favio, 1965) e Los Olvidados (Luis Buñuel, 1950). O segundo modo parte do conceito do direito à opacidade (Glissant, 1990 ) como estratégia de linguagem fílmica que ao mesmo tempo que manifesta a intraduzibilidade das experiências humanas, cria um sinal de respeito diante do enigma do outro – não completamente atravessado, absorvido e capturado pelo quadro fílmico. Tais ideias são gerenciadas em obras como Leonera (Pablo Trapero, 2008), Medea (Alexandra Latishev, 2017) e Pizza, Birra y Faso (Israel Adrián Caetano e Bruno Stagnaro, 1998). Esses dois gestos encontram o lugar da dúvida nos comportamentos da câmera como forma de interpelar o espectador cinematográfico, tensionando os regimes de visibilidade e o próprio gesto de filmar um outro. Em última instância, poderíamos então nos aproximar de uma puesta-en-escena do intraduzível - o outro filmado também nos pensa. |
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Bibliografia | BARRIENDOS, Joaquín. La colonialidad del ver: Hacia un nuevo diálogo visual interepistémico. 2011. |