ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Por uma cinema de criaturas |
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Autor | Ramayana Lira de Sousa |
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Coautor | Alessandra Soares Brandão |
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Resumo Expandido | Um manifesto documenta menos uma interpretação do mundo e mais uma vontade de mudá-lo. E, como nos lembra Jerry Tartaglia (2013), queers adoram manifestos, adoram escrevê-los e lê-los. De Sergei Eisenstein a Valerie Solanas e Chris Crocker, queers criaram manifestos sobre tópicos que vão desde o cinema soviético pós-revolução até utopias e distopias feministas e estrelas pop. O manifesto é um modo de expressão adequado para aqueles que foram historicamente marginalizados. Afinal, que outra forma literária é tão adaptável a discursos e delírios, dramas e vinganças, metáforas militaristas e o ocasional flerte com o totalitarismo? 😱(TARTAGLIA, 2013) Oh céus, como pode ser moderno o manifesto! Luca Somigli (2003) jura que pelo menos desde o século XVI, o manifesto documenta a experiência de ruptura com uma sociedade ou uma cultura que até então se considerava coesa. Eis para que (nos) serve o mani-festo (o que se toma pela mão, o que pode ser apalpável - questão que será desenvolvida no trabalho): para manifestar a complexa fragmentação do mundo e do pensamento. E, não esqueçamos, o manifesto é uma expressão que, historicamente, colocou em crise a autoridade de quem fala. Pois que, com a danada da modernidade, pessoa qualquer pode se “manifestar”. Dizem… Um manifesto, pois, quer agir, intervir, re-imaginar e re-lembrar diferentes formas de existências (COLMAN, 2010). Um manifesto, claro, precisa de uma plataforma. O ST Tenda Cuir aparece como espaço privilegiado para um manifesto que quer disputar o que se sabe, o que se diz, o que se goza, o que se esconde, o que se promove, o que se afirma, o que se exclui do/no cinema. É a plataforma para um manifesto das criaturas. Queremos apresentar esse manifesto como contribuição à provocação cuir ao cinema. As criaturas se aproximam desde as bordas. De fora (das instituições, dos circuitos de produção e circulação, da produção de cânones, da distribuição da grana), as criaturas olham o cinema com desconfiança. E com enorme amor. Manifestam-se ruidosamente, espetáculo visto como excesso que não cabe na dieta rigorosa da análise fílmica. Manifestam-se silenciosamente, ruído que não significa, ilegível, infante. Esta proposta é para pensar o manifesto como gênero da crítica, da cinefilia, da criação cinematográfica. Esta proposta é para manifestar um cinema que não existe ainda, para criaturas que só existem quando imaginadas. Um manifesto-inventário de impossibilidades, inicialmente pensado em um conjunto (SOUSA; CESAR; BORGES, 2015) que se fez e desfez. E que, agora, se arrisca, em dupla expressão: como comunicação oral e como documento audiovisual e escrito que será apresentado. |
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Bibliografia | COLMAN, Felicity. Notes on the Feminist Manifesto: The Strategic Use of Hope. Journal for Cultural Research, 14:4, 2010. |