ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Cinema na palma da mão: o potencial cinematográfico dos smartphones |
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Autor | Vanessa Guimarães Lauria Callado |
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Resumo Expandido | O sistema de realização de filmes remete a uma grande estrutura e durante muito tempo a produção cinematográfica ficou restrita a quem tinha acesso à esta estrutura. No entanto, a maneira de se produzir e de se ver cinema vem se transformando sob a influência das mudanças econômicas e tecnológicas, e a captação de imagem e som através de mídia digital virou a realidade dominante da produção audiovisual atual. Obras de cinema gravados pela câmera de um celular já são uma realidade e proporcionam acesso mais democrático aos realizadores. É objetivo deste trabalho analisar a abrangência, as transformações e as legitimações do processo de realização cinematográfica por meio do dispositivo smartphone e desenvolver uma análise que visa evidenciar outros potenciais do aparelho, relacionando a transformação tecnológica às mudanças de significado prático e cultural da produção fílmica. Investiga-se o fato de haver uma ampliação da possibilidade de realização, principalmente para diretores independentes que não dispõe de um grande orçamento, e para minorias, cuja temática não desperta a atenção de patrocinadores, como no caso de Tangerine. Dirigido e roteirizado por Sean Baker, o filme, por sua temática, foi recusado por patrocinadores e só pôde ser realizado pela facilidade das câmeras do smartphone. Nesta pesquisa levaremos em conta que o mundo atual é invadido pelo smartphone e necessita-se investigar como os seres humanos interagem com ele. Uma das características mais marcantes da nossa era é onipresente presença de telas nas mais diversas experiências humanas. Com relação a exibição de filmes de cinema feitos com o celular, pode se dar tanto nos espaços tradicionais de exibição, como salas de cinema e festivais (em meio a outros filmes captados com câmeras profissionais), como encontram espaços exclusivos, onde o próprio dispositivo técnico importa na constituição do filme e faz parte do conceito da obra. Vários festivais de cinema incluem uma categoria a parte, dedicada a filmes produzidos com celular. Outros festivais são fundados a partir do uso do smartphone, como o Cinephone International Smartphone Short Film Festival e o Mobile Film Festival. A primeira problematização do dispositivo cinema se dá nos anos de 1920. Desde então muitas obras cinematográficas fogem ao esquema da forma cinema e reinventam o dispositivo, seja procurando um espaço fora da tela, seja produzindo novas relações com o espectador, seja abandonando a sala escura e ocupando outros espaços. A esta investigação interessa entender de que modo a tecnologia digital, mais especificamente a câmera do smartphone, opera transformações no dispositivo do cinema. E se e de que modo a relação deste cruzamento entre o dispositivo cinema e o dispositivo smartphone opera transformações nas relações de poder e de saber constituintes destes dispositivos. Mesmo levando em conta que existam diferentes tipos de saberes, como habilidades técnicas para operar equipamentos e o conhecimento necessário para produzir uma obra de arte, é inegável que os diretores acabam por ter maior acesso à realização de seus filmes, descolados da máquina da grande indústria cinematográfica. Os filmes curta-metragem do diretor francês Michel Gondry, Detour (2017), A Dozen eggs (2021), e um novo filme também curta-metragem, do diretor sul coreano Park Chan-Wook, Life is but Dream (2022), também foram gravados por meio da câmera do smartphone da Apple. Diferentemente de Sean Baker, Gondry e Chan-Wook tiveram seus filmes financiados pela empresa. De olho num mercado emergente, onde os cineastas independentes precisam se reinventar para contar suas histórias no contexto do século XXI, a Apple passou a investir na veiculação da imagem do seu smartphone como câmera para se fazer cinema. Em suas versões atuais, as câmeras dos smartphones vêm com variados controles, comandos e lentes, que geram recursos próximos aos de uma câmera de cinema. |
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Bibliografia | AGAMBEN, G. O que é contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. |