ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Estilo e preferências – ensaios de montagem de Karen Harley |
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Autor | Fernanda Bastos Braga Marques |
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Resumo Expandido | Karen Harley é uma montadora brasileira cujo trabalho marca a nossa produção audiovisual contemporânea.
Mas montadora é autora? Montadora tem estilo? Karen responde: Quando me perguntam qual o meu estilo, eu não sei responder. Acho que não tenho estilo. Tenho preferências. Cada filme tem algo novo e diferente do anterior e procuro sempre estar em sintonia com ele. [...] É um processo intuitivo. Penso em Tarkovski quando ele diz que a duração dos planos e o ritmo do filme já estão contidos no material filmado. Cabe ao montador achar esse tempo intrínseco ao filme e permitir que os planos se juntem espontaneamente. (AKERMAN et al., 2013, p. 54) A maioria dos filmes de ficção e documentário não deixam tanto espaço para que o estilo da montagem apareça. Na ficção, em geral, quanto menos visível é a montagem, melhor para o andamento da história, e no documentário, o/a montador/a é também autor/a, porque não há roteiro; a narrativa se constrói na edição. Já no filme-ensaio, há maior liberdade de experimentação de linguagens. Assim, para tentar identificar o estilo de Harley, escolhemos três filmes-ensaios montados por ela, pois entendemos que, nesses casos, o processo de montagem é autoral e decisivo para a essência das obras. São eles: Estou me guardando para quando o carnaval chegar (2019), de Marcelo Gomes, Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, e Com um oceano inteiro pra nadar (1997), da própria Karen. Com um oceano inteiro pra nadar parte de gravações em microcassetes que o artista José Leonilson fazia para si mesmo, como uma espécie de diário. De vasto acervo de reflexões, comentários e declarações, Harley separa 19 minutos e constrói junto com imagens de seu arquivo pessoal um curta metragem que leva o espectador para um pouco mais perto dessa figura sensível e misteriosa, que é Leonilson. Viajo porque preciso, volto porque te amo, segundo Harley, “foi um oásis e uma ilha da fantasia. É um filme completamente livre, a gente nem tinha certeza de que dali surgiria um filme”. O material usado era a sobra de um curta metragem filmado dez anos antes por Gomes e Aïnouz. “Mas tinha um material latente maior do que o curta e, em determinado momento da vida de cada um, decidiram voltar ao material e ver no que poderia ser transformado”. (BERNSTEIN et al., 2022, p. 199) Estou me guardando para quando o carnaval chegar é um documentário mais convencional, com entrevistas nas quais os moradores de Toretama, em Pernambuco, falam sobre a exaustiva rotina de trabalho na indústria do jeans, que sustenta a economia local e da sua tradição carnavalesca, que paralisa e quase esvazia a cidade. Por meio de sua intimidade e parceria com as imagens, Harley alterna sequências poéticas e informativas, reproduzindo essa temporalidade vivida pelos personagens que se dedicam quase exclusivamente ao trabalho durante o ano para extravasar tudo no período do Carnaval. A trama urdida na edição, por meio de longas fusões, cortes bruscos, dissincronias entre som e imagem, entre outros recursos utilizados por Harley, dá o tom ensaístico e reflexivo aos filmes. De acordo com Arlindo Machado, o filme-ensaio guarda a subjetividade do enfoque, a eloquência da linguagem e a liberdade do pensamento do ensaio literário, enunciando-as de forma audiovisual. (MACHADO, 2003, p.63) Se ficção e documentário não devem se desviar muito dos fios lógicos e éticos da narrativa, o ensaio é uma forma mais aberta, experimental e especulativa, que afirma o cinema como forma que pensa, como querem Deleuze, Bazin, Aumont e, sobretudo, Godard. |
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Bibliografia | AKERMAN, K., RANDOLPH, E. e SEABRA, M. (org.) Cinema de montagem, Rio de Janeiro: 2013. (Catálogo)
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