ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Os cinemas de territórios e as migrações |
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Autor | Camilla Vidal Shinoda |
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Resumo Expandido | O artigo busca ampliar a formulação da noção de cinemas de territórios, proposta por essa pesquisadora em sua tese de doutorado em andamento, para compreender o processo de demarcação de telas (KRENAK, 2021) nacionais. Cinemas de territórios são práticas cinematográficas amplas e diversas, que possuem em comum a característica de estabelecerem o território como fundamento, isto é, existe um compromisso ético entre quem realiza a produção cinematográfica e o território. Em um outro momento, analisei as possibilidades dessa prática a partir dos vínculos originários que os povos indígenas possuem com o território brasileiro e as implicações disso em seus cinemas. Grande parte da população que ocupa os territórios não-hegemônicos no Brasil, no entanto, não possui vínculos originários com essa terra, visto que a vinda para cá foi fruto de migrações forçadas e o próprio deslocamento interno continua se dando dessa forma. Refletir sobre as implicações provocadas pelas migrações forçadas nos cinemas de territórios é o principal objetivo desse artigo. Os povos afrodiaspóricos, parcela significativa da nossa população atual e as vítimas mais duradouras do processo de escravização, estabelecem, portanto, outros tipos de vínculos com os territórios nacionais. A primeira relação é aquela que se dá com o desconhecido: uma migração forçada para um espaço que não é o seu, um exílio. A segunda relação é a de ocupação: é preciso estabelecer algum vínculo com esse espaço onde se passa a viver de maneira forçada e violenta. Essa ocupação paradoxal se consagra, portanto, por meio de resistência. A historiadora Beatriz Nascimento (2007) pensa essa ocupação territorial do povo negro a partir de dois principais conceitos – quilombo e corpo-documento – que propõem uma continuidade entre África e Brasil. Beatriz caracteriza o quilombo como uma instituição africana, de origem angolana; indica as conotações que quilombo recebe no período colonial e imperial no Brasil e amplia esse entendimento, caracterizando a instituição quilombo como forma de resistência cultural. Na experiência afrodiaspórica no Brasil, o corpo negro tem um papel fundamental na instituição quilombo, pois ele é entendido como um corpo-documento (1989), ao carregar a memória cosmológica que permitirá a ocupação e a criação de vínculos com o novo chão. Para compreender melhor esses conceitos, os vínculos estabelecidos pelos corpos negros em diáspora e as implicações disso nos cinemas negros, vamos analisar dois filmes: Ôrí (1989), dirigido por Rachel Geber e roteirizado pela própria Beatriz Nascimento, e Alma no Olho (1974), dirigido por Zózimo Bulbul. Além de passar pelos filmes, irei por a noção de cinemas de territórios em diálogo com a noção de QuilomboCinema (2020), uma formulação da pesquisadora negra Tatiana Costa sobre o cinema negro brasileiro e contemporâneo. Tatiana parte do conceito de quilombo de Beatriz Nascimento para apresentar uma prática coletiva que não se encerra na produção de filmes. Dessa forma, poderemos observar as intersecções e distanciamentos entre as duas práticas cinematográficos, bem como as possibilidades que os diferentes recortes de pesquisa – a raça, no caso do QuilomboCinema, e o território, no caso dos cinemas de territórios – podem trazer para pensar a demarcação de telas no Brasil. |
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Bibliografia | COSTA, Tatiana C. QuilomboCinema: ficções, fabulações, fissuras. Disponível em https://siteficine.wordpress.com/2021/10/07/quilombocinema-ficcoes-fabulacoes-fissuras/. |