ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Também quero assumir a direção |
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Autor | Benedito Ferreira dos Santos Neto |
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Resumo Expandido | Cena e cenário possuem simbioses que determinaram a constituição do nascimento da profissão do diretor de arte ao serem deflagradas pelo detalhamento visual das pranchas do production designer William Cameron Menzies. No Brasil, o cineasta Alberto Cavalcanti (1977) recorre ao quintal da família Lumière para demonstrar a importância da cenografia na constituição da narrativa. Trata-se de uma imagem emblemática que aparentemente não sofreu quaisquer intervenções. Embora não elabore uma reflexão que problematize os enredamentos entre cena e cenário, diretor e diretor de arte, Cavalcanti pontua que “um bom cenógrafo, como um bom diretor, deve conhecer a fundo as objetivas e saber escolhê-las para o efeito desejado” (p. 122). Mais do que acenar para a aproximação das funções, sua declaração, instituída aos moldes dos célebres manuais de cinema, recupera os esforços de Menzies, Anton Grot e Carl Jules Weyl, artistas que prontamente inscreveram a profissão do diretor de arte no panteão da indústria hollywoodiana. Em entrevista à revista Filme Cultura, cujo título é “Quero assumir a direção”, o diretor de arte Luiz Carlos Ripper comenta que após o reconhecimento de seu trabalho como cenógrafo e figurinista, “tudo lhe parece um pouco retake” (RIPPER, 1972, p. 30) e que “acho que possuo bastante experiência prática para assumir a direção” (ibid., p. 31). Ripper aproxima-se inicialmente do teatro com o intuito de buscar subsídios para compreender a totalidade do processo criativo, inclusive da experiência de ator, para então experimentar a direção cinematográfica. O cinema brasileiro contemporâneo, sobretudo as produções realizadas a partir dos anos 2010, tem atribuído à direção de arte uma responsabilidade crucial na criação da visualidade ao optar pela valorização de gestos inventivos de produção e finalização de imagem. Os financiamentos públicos que estimularam a descentralização das produções audiovisuais requisitaram outras formatações de equipe e muitos outros modelos têm sido experimentados. Também tem se tornado cada vez mais comum diretores de arte interessados em assumir a direção cinematográfica, seus intercâmbios e processos criativos, a exemplo de Renata Pinheiro, diretora de Amor, Plástico e Barulho (2013) e Carro Rei (2021), Glenda Nicácio, codiretora de Café com Canela (2017) e Juliano Dornelles, codiretor de Bacurau (2019). Entre uma proposta mais discreta, referida por muitos como “invisível”, ou aquela que “chama a atenção”, de modo a superlativar a caracterização do espaço e dos personagens, a direção de arte é capaz de instituir uma realidade do zero, dotando os ambientes de elementos não usuais ou sugerindo uma época a partir de um único elemento cênico. A artesania em determinados projetos anuncia resultados interessantes no que concerne às imagens dos filmes. Essas produções compreendem a ficção como o real em efervescente remodelação, o que interfere de maneira substancial na atuação da direção de arte obstinada a provocar uma espontaneidade latente nas imagens. Elas revelam, ainda, outros ímpetos e alcances da direção de arte, a batalha pela autonomia do campo e as formações profissionais que podem extrapolar as graduações em arquitetura ou artes plásticas. |
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Bibliografia | CAVALCANTI, Alberto. Filme e Realidade. Rio de Janeiro: EMBRAFILME, 1977. |