ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | O “acabamento de carrosserie” no cinema da Belair |
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Autor | Leonardo Esteves |
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Resumo Expandido | Já morando em Londres, após a conclusão da Belair e, segundo se alega, devido a ameaças de detenção pela ditadura militar, Julio Bressane tem dois longas-metragens rodados na produtora exibidos na mostra “Novos rumos do cinema brasileiro”. Esta é promovida pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro entre novembro de 1970 e janeiro de 1971. A ocasião é favorável, dando alguma visibilidade para obras polêmicas que não estavam encontrando espaços de projeção, mas atraindo a curiosidade de um certo público que acompanhava o desenvolvimento do cinema moderno brasileiro. Trata-se da primeira tentativa de reunir uma filmografia que estava ganhando relevo entre admiradores e detratores, inspirando rótulos como cinema marginal, udigrudi, cinema do lixo, entre outros. A filmografia de Bressane comparece com: Barão Olavo, o horrível (1970), primeiro trabalho em cores do cineasta; e A família do barulho (1970), o primeiro longa-metragem rodado por ele na Belair e com fotografia em preto e branco, acentuadamente irregular. O protagonismo do diretor dentre os demais nomes arrolados pela mostra possivelmente avalizou a publicação de dois textos de sua autoria nos programas da Cinemateca. Esses textos, apresentados na forma de cartas, foram escritos em Londres e expõem uma redação provocadora, repleta de referências e conversas cifradas. Caro ao repertório do cineasta e ao de seu sócio na companhia, Rogério Sganzerla, Oswald de Andrade é uma presença também nesse par de escritos. Entre citações a seu nome e excertos de sua obra, destaca-se a expressão “acabamento de carrosserie”, presente no Manifesto da poesia Pau Brasil, que também tivera trechos enxertados em A família do barulho. O “acabamento de carrosserie” seria uma espécie de elogio ao lado técnico da obra (SCHWARTZ, 2008, p. 169), mas também, e sobretudo, tecnológico (NUNES, 1978, p. xx). No contexto aventado por Bressane, ele deve ser pensado como um argumento que tem como alvo o alto investimento industrializante pleiteado pelo Cinema Novo, com consequências estéticas. A remissiva a Oswald ganha aí um novo fôlego. É sustentado por argumentos que contemplam tanto aspectos práticos quanto outros, relacionados a reflexões materiais de produção e apresentação de imagens – um processo longevo na filmografia do diretor que será conceituado por ele mesmo, como se dá no caso do fotodrama, uma “ação trágica da luz” que “escreve além de si” (BRESSANE, 2011, p. 7). Essa comunicação tem como objetivo, a partir dos textos de Bressane relacionados à “Novos rumos”, aprofundar a conversação entre Oswald e o projeto encampado pela Belair (não apenas restrito aos filmes, mas, sobretudo, à iniciativa em si). Toma-se como ponto de partida um aprofundamento sobre a transposição do conceito de “acabamento de carrosserie” para o cinema da Belair e as transgressões técnico-tecnológicas que ele atualiza em palavras e imagens. |
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Bibliografia | ANDRADE, Oswald. Manifesto antropófago e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. |