ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Espaços Audiovisuais das Mulheres no Samba |
|
Autor | Samuel Paiva |
|
Resumo Expandido | Cotejando produções audiovisuais tais como um episódio do programa Ensaio (TV Cultura, 1975), com Leci Brandão e Cartola, e os filmes Rainha Quelé (Werinton Kermes, 2011) e Clementina (Ana Rieper, 2019), sobre Clementina de Jesus, esta comunicação procura refletir sobre “mulheres negras e cultura midiática”, como propõe Jurema Werneck em seu livro O samba segundo as Ialodês. Para a autora, “Ialodê designa mulheres emblemáticas na tradição afro-brasileira” (WERNECK, 2020, p. 17). Referenciando-se em tradições relacionadas a divindades do candomblé relacionadas ao feminino e contando também com referências do “feminismo negro” (Ibidem, p. 31), Werneck propõe a ideia de “Ialodê”, verificando a atuação de mulheres nas disputas no âmbito da cultura, tendo em vista melhores posicionamentos não só para as próprias mulheres negras como também para a população negra de forma mais ampla. Em tal caminho, a autora destaca várias mulheres cujas trajetórias contrapõem-se à invisibilidade da participação feminina no espaço político-cultural. Essas trajetórias são observadas em acordo com uma “periodização do samba e as mulheres negras” (Ibidem, p. 117), em que se incluem, ao longo dos vários períodos de formulação desse gênero musical, muitas personagens históricas, desde Chiquinha Gonzaga, Tia Ciata, Aracy Cortes, Clementina de Jesus até, mais recentemente, Leci Brandão, Jovelina Pérola Negra e Alcione, entre várias outras. Considerando tais premissas e observando produções audiovisuais que remetem às trajetórias de Clementina de Jesus e Leci Brandão, figuras emblemáticas da questão que se apresenta, esta comunicação tem o propósito de refletir sobre perguntas tais como: em que medida no campo da cultura do samba se verifica historicamente uma contradição entre, por um lado, uma grande participação das mulheres negras e, por outro, sua pouca visibilidade midiática? Como a produção audiovisual reflete esse processo de visibilidade/invisibilidade? No transcorrer da história do samba, em seus distintos períodos, que estratégias foram utilizadas pelas artistas no sentido de projetar suas imagens e sons, quebrando barreiras classistas, sexistas e racistas? A escolha das produções audiovisuais a serem analisadas, com base em teorias da análise fílmica (AUMONT; MARIE, 2009), relaciona-se a hipóteses consideradas como possíveis respostas para tais questionamentos. Por exemplo, no caso do referido episódio do programa Ensaio, gravado em São Paulo, ocorre um diálogo musical entre Cartola e Leci Brandão significativo da inserção da então jovem cantora e compositora como primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma das emblemáticas escolas de samba do Rio de Janeiro, a Mangueira, onde ele era um dos baluartes. Além disso, destaca-se uma mídia (televisão) que desde o início da carreira de Leci Brandão foi fundamental na difusão popular de sua imagem, inclusive, quando se tornou posteriormente comentarista na transmissão dos desfiles de escolas de samba pela TV. Há ainda que se considerar sua conexão com outros gêneros musicais, como o hip-hop, por exemplo, em um movimento que se amplia do disco, para a TV até chegar ao videoclipe e sua circulação na internet. Por sua vez, nos filmes sobre Clementina de Jesus (1901-1987) são construídas narrativas que também contam com vários materiais de arquivo, inclusive, produzidos para televisão. No entanto, é notável em sua trajetória o fato de que Clementina só foi “descoberta” enquanto artista quando já estava com mais de 60 anos de idade, mesmo tendo já participado, por exemplo, da formação de escolas de samba pioneiras do Rio de Janeiro (cf. RIBEIRO, 2019). Como então compreender sua “invisibilidade” por tanto tempo? Hipótese a ser discutida, as mulheres negras das primeiras gerações do samba tiveram mais dificuldades para conquistar espaço midiático, por razões diversas implicadas no “racismo estrutural” (ALMEIDA, 2020) refletido na formação da indústria cultural brasileira. |
|
Bibliografia | ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro, Editora Jandaíra, 2020. |