ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Festival de Cannes: circulação e definições de cinemas brasileiros |
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Autor | Cleide Mara Vilela do Carmo |
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Resumo Expandido | O objetivo deste artigo é discutir a participação de filmes brasileiros selecionados para a mostra principal de Cannes no período de 2000 a 2019 com o intuito de compreender como a interlocução com este festival também é constituinte daquilo que definimos como cinemas brasileiros. Parto do pressuposto que os festivais internacionais de cinema, como o Festival de Cannes, são plataformas globais de exibição de filmes e, portanto, vitrines para a indústria das produções mundiais, locais de competição entre realizadores/as e, também, espaços de manifestações de agendas políticas de organismos internacionais e de articulação entre os mercados de distribuição, comercialização e exibição de filmes produzidos fora de Hollywood (Elsaesser, 2005). Os dados apresentados são parte e desdobramento de minha pesquisa de doutorado Sentidos da circulação e cinemas brasileiros:a participação de realizadores/as em festivais internacionais de cinema no período de 2000 a 2019. No período selecionado, participaram sete filmes brasileiros na mostra principal de Cannes: Estorvo de Ruy Guerra (1931-, Moçambique) no ano 2000, Carandiru de Hector Babenco (1946-2016, Mar del Plata) no ano de 2003, Diários de Motocicleta de Walter Salles (1956-, RJ) em 2004, Linha de Passe de Walter Salles e Daniela Thomas (1959-, RJ) e Ensaio sobre a Cegueira de Fernando Meirelles em 2008, Na Estrada de Walter Salles em 2012, Aquarius de Kleber Mendonça Filho (1968-, PE) em 2016 e Bacurau de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (1980-, PE) em 2019. Gostaria de enfatizar a presença de diretores ligados ao Cinema Novo e ressaltar as presenças de Walter Salles e Kleber Mendonça Filho no festival tanto na mostra principal quanto no júri e, consequentemente, as dinâmicas de definição de cinemas brasileiros a partir da rede de relações desses cineastas. Nota-se nestes filmes, a predominância de produtoras sediadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mesmo na produção de Aquarius e Bacurau, realizada pela pernambucana Cinemascópio – produtora do casal Kleber Mendonça Filho e da francesa Emilie Lesclaux - é em parceria com a Videofilmes (RJ) e a Globo Filmes (RJ) — ambas sediadas no Rio de Janeiro. A Videofilmes, produtora de Walter Salles e de seu irmão João Moreira Salles, por exemplo, produziu metade dos filmes brasileiros selecionados para as mostras principais dos festivais de Cannes e Berlim nestas duas primeiras décadas dos anos 2000. Nesse sentido, pode-se inferir que sua parceria é fundamental para estar nas mostras principais dos festivais europeus, o que garante um certo laço com um tipo de cinema brasileiro que circula internacionalmente. Além disso, as temáticas desdobradas desses filmes também estão alinhadas historicamente com alguns dos ideais do Cinema Novo, movimento presente no Festival de Cannes em diversas mostras ao longo dos anos. Neste artigo, trato de compreender a atualização, principalmente, dos cenários da favela e do sertão nestes filmes. |
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Bibliografia | Bentes, Ivana. 2007. Sertões e favelas no cinema brasileiro contemporâneo: estética e cosmética da fome. In: ALCEU – v. 8, n. 15. |