ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Criaturas (nem tão) solitárias assim |
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Autor | Cristian Borges |
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Resumo Expandido | Numa trajetória que leva do campo à cidade e da infância tardia à idade adulta – ou nem tão adulta assim (Winnicott) –, acompanhamos em três filmes recentes a evolução da “condição gay” – no sentido filosófico (Arendt) e não patológico do termo –, enquanto um registro mais naturalista (CLOSE, Bélgica, 2022) dá lugar a outro, fantástico (TODOS NÓS DESCONHECIDOS, Reino Unido, 2023), passando pela tortuosidade de uma narrativa que se desdobra em vários pontos de vista (MONSTER, Japão, 2023). Trata-se de filmes habitados por criaturas solitárias (Sousa; Brandão) que enfrentam crises e traumas através de desvios fílmicos que conduzem à mesma redenção contraditória de uma solidão (talvez) insolúvel (Hobbes): o inescapável “poder do amor” (aqui em alusão à canção “The Power of Love”, da banda Frankie Goes to Hollywood, que encerra o filme britânico). Os antigos gregos e romanos empregavam várias palavras ou conceitos para designar diferentes tipos de amor e encontramos alguns deles nesses três filmes: philia (φιλία), o amor fraterno, e xenia (ξενία), o amor hospitaleiro, em CLOSE; agape (ἀγάπη), o amor incondicional, e ludus (lūdus), o amor lúdico, em MONSTER; storge (στοργή), o amor parental ou familial, e eros (ἔρως), o amor romântico e sexual, em TODOS NÓS DESCONHECIDOS. Enquanto o filme de Lukas Dhont explora a descoberta da perda e do luto no seio de uma sociedade rural belga, o de Kore-eda investe nos contratempos e mal-entendidos provocados pela incomunicabilidade própria de uma sociedade urbana japonesa sufocada pela autorrepressão. Já no filme de Andrew Haigh, personagens fantasmagóricas transitam num mundo espectral em busca de afeto e alívio como única saída possível do limbo ou purgatório em que se encontram. E como “um filme é um fio e só, mas um fio que nunca se move só” (Sousa; Brandão), veremos como filmes distintos também podem se conectar – ou serem conectados, a partir de uma audiovisão sensível – a fim de compor uma macronarrativa ou uma “constelação fílmica” (Souto) que os atravesse transversalmente – podendo aludir, de passagem, a outras obras que extrapolem o escopo inicial, tais como Gerry (Gus van Sant, 2002), Tabu (Nagisa Oshima, 1999) e Weekend (Andrew Haigh, 2011), entre outras. |
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Bibliografia | ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. |