ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | O cinema “periférico” de Campusano e Queirós |
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Autor | Fabián Rodrigo Magioli Núñez |
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Resumo Expandido | Autores como Barrenha e Depetris Chauvin sublinham o chamado “giro espacial” que o pensamento contemporâneo sofreu nas últimas décadas. Não apenas se deve ao “giro cultural” sofrido pela geografia, mas também de uma transformação no campo das ciências sociais e humanas, ao inter-relacionar espaço, saber e poder. Sob a influência de Foucault e Deleuze, podemos encontrar nos últimos anos todo um vasto campo de reflexão a partir do conceito de espaço para pensar as relações cognitivas e sociais. No campo audiovisual, tais reflexões também ganharam relevância, em especial, para estudar o cinema contemporâneo. E por este viés, podemos encontrar estudos sobre a cidade no cinema latino-americano contemporâneo. Morse formula o seu conceito de arena cultural ao entender as cidades “periféricas” – sim, entre aspas, pois Morse problematiza esse jogo entre centro e periferia – como “cadinhos da modernidade”. Assim, seguindo Morse, entendemos o cinema como um dos agentes importantes dentro do jogo de forças que forma tal arena. Por outro lado, tampouco estamos preocupados em analisar a representação da cidade nos filmes, ao buscar saber se tais obras são fiéis ou não à cidade “real”, mas analisar como os debates sobre o espaço urbano se apresentam nos filmes, entendendo que os cineastas também são partícipes na construção desses discursos sobre a cidade. Portanto, não se trata de analisar as obras audiovisuais como simples meios de transmissão das ideias sobre a cidade, mas, voltando a repetir, a intenção é analisá-los por sua própria proposta estética já que o fazer artístico é parte constituinte da arena cultural que compõe uma cidade. Logo, a cidade que está na tela faz parte dos debates sobre o meio urbano no qual estes cineastas se encontram inseridos. Desse modo, postulamos o entendimento de um olho-urbanitas, no sentido de que o cineasta não apenas apresenta para nós, espectadores, um olhar sobre a cidade, uma determinada imagem sobre a cidade, mas também como os debates sobre a cidade se apresentam em sua obra, uma vez que o cineasta como um ser urbano, como um urbanita, é atravessado por esses discursos. Dipaola postula que o registro fotográfico ou a demografia populacional não dá conta das relações que constituem a cidade pós-moderna. Vários autores, como Rolnik, Harvey e Santos, frisam o quanto a cidade contemporânea, sob os efeitos do neoliberalismo e da globalização, se fragmentou com as políticas de segregação socioespacial. Assim, já não é mais possível afirmar em um projeto de cidade, uma vez que o seu território se fragmentou – e continua a se fragmentar – consideravelmente, não havendo, portanto, condições de uma experiência única e global da cidade, como frisa Dipaola. Os fluxos entre pessoas e mercadorias, o que sempre caracterizou a cidade burguesa desde as grandes reformas urbanas do século XIX, se acelerou em um alto nível, continuando a levantar barreiras, físicas ou não, aos seus indesejados. No entanto, apesar de entendermos as restrições de Dipaola, divergirmos de suas asseverações, uma vez que disciplinas como história urbana, geografia, demografia e ciências sociais, entre outras, são importantes para o nosso viés teórico-metodológico, embora não estejamos interessados em fazer história urbana ou análises sociais a partir dos filmes. Não encaramos os filmes como fontes, documentos ou dados sociais. Nosso propósito é refletir como a condição humana sob a experiência urbana é expressa no cinema latino-americano contemporâneo? E, por isso, nossas preocupações se aproximam das reflexões de DiPaola, ainda que partamos de caminhos teóricos distintos. Voltamos a interrogar: como a condição humana sob a experiência urbana é expressa no cinema latino-americano contemporâneo? Diante dessa questão, partiremos do conceito de “arena cultural” de Morse para pensarmos as obras dos cineastas José Celestino Campusano e Adirley Queirós. |
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Bibliografia | DIPAOLA, E. Trayectos y performatividad: preliminares nociones para el abordaje de una imagen-espacio en el cine contemporáneo. AsAECA, 2012. |