ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | "Não é o acaso, é a técnica" |
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Autor | Guilherme Maggi Savioli |
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Resumo Expandido | A comunicação propõe averiguar como o conceito de sintaxe visual – surgido originalmente dentro do campo das imagens fixas – pode ser transposto para o campo das imagens em movimento, mais especificamente em uma reflexão acerca da preservação e apresentação de filmes realizados entre o final do século XIX e início do XX. Em 1953, sete anos após sua aposentadoria como curador de gravuras do Metropolitan Museum of Art de Nova York, William M. Ivins Jr. publica o livro Prints and Visual Communication. Fruto de uma série de palestras para as quais havia sido convidado a ministrar em Chicago, a obra acabou se tornando uma das principais referências teóricas e historiográficas no campo da gravura. A principal ideia da obra consiste em elaborar e desenvolver o conceito de “sintaxe visual”. Segundo Ivins Jr., o estabelecimento da gravura em meados do século XV constituiu um dos principais eventos na história da comunicação humana. Para ele, a possibilidade de reproduzir mecanicamente registros visuais idênticos e em série representou um salto quântico na capacidade de se apreender e transmitir fatos da realidade. Ainda dependente, porém, da habilidade humana em entalhar uma matriz reprodutível, a história da gravura foi marcada pelas diversas estratégias e abordagens desenvolvidas, ao longo dos séculos, para a disposição na placa das linhas que conferem forma, volume e textura aos desenhos. O estudo das variações na disposição de tais linhas, privilegiando determinados aspectos da comunicação visual, é o que caracterizaria para o autor a sintaxe visual da gravura. Apesar de sua enorme importância - tendo influenciado, inclusive, autores seminais da teoria da comunicação, como Marshall McLuhan – Ivins Jr. considera, de forma equivocada, que com o surgimento da fotografia a sintaxe visual deixaria de ser um operador hermenêutico valido, uma vez que a técnica fotomecânica libertaria a manifestação da interferência primeira da mão humana, tal como acontece na gravura. A fim de rebater esse pressuposto, o fotógrafo e impressor William Crawford publica em 1979 o livro The Keepers of Light. Elaborado originalmente como um guia prático para a produção de processos fotográficos característicos do século XIX, Crawford aproveita o primeiro capítulo de seu livro para escrever uma pequena história da fotografia baseada na forma como as rápidas alterações técnicas típicas do período influenciaram a elaboração e recepção dos objetos. Para ele, em fotografia, a sintaxe visual se resume justamente às possibilidades e limitações impostas pela tecnologia disponível ao operador. Em nossa comunicação, num primeiro momento, propomos pontuar como o conceito de sintaxe visual aparece no debate historiográfico acerca da evolução tecnológica do cinema. Tomaremos como referência o paradigma cronológico estabelecido por Lenny Lipton em seu livro The Cinema in Flux – The Evolution of Motion Picture Technology from the Magic Lantern to the Digital Era, a fim de caracterizarmos o que configuraria tecnicamente a sintaxe visual dessas obras dentro de seu contexto histórico. Já em um segundo momento, discutiremos a sintaxe visual da apresentação e preservação desses registros. Abordaremos como o conceito reaparece na abordagem de André Gaudreault acerca da importância das “séries culturais” na caracterização das “kineto-atrações”, bem como o paradigma da “performance” estabelecido por Paolo Cherchi Usai como elemento central na apresentação contemporânea do dito “cinema silencioso”. Por fim, a partir das provocações de Alfonso del Amo García contidas no texto “Qué aportan los soportes originales a la preservación cultural de la cinematografía?”, buscaremos apontar como o estudo da evolução técnica do cinema, embasado pelo conceito de sintaxe visual, pode contribuir para a compreensão metodológica do trabalho de preservação dessas obras. |
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Bibliografia | Crawford, W. The Keepers of Light – A History & Working Guide to Early Photographic Processes. Dobbs Ferry: Morgan & Morgan, 1979. |