ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | O Canto Semi Amador em Inferninho |
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Autor | Caio Cardoso Holanda |
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Resumo Expandido | Claudia Gorbman em 2011 publica na revista Music Sound and the Moving Image seu artigo Artless Singing que na tradução brasileira se tornou “O Canto Amador”, que comenta sobre o fenômeno em filmes de ficção onde os personagens cantam ou cantarolam, sozinhos ou acompanhados, canções sem a pretensão de ser um número musical com a produção, afinação, instrumentação e sem escapar da realidade. Assim, naturaliza o ato de cantar dentro da narrativa como um aspecto da realidade, pois o canto no banho, ao lavar louças, cantarolar ao citar uma música ou ao ouvir soando em aparelhos como o rádio e a televisão é um recurso narrativo para criar empatia entre o personagem e o espectador que reconhece ou também gosta da canção. O canto amador está nas “lacunas” da crítica cinematográfica, pois não é exatamente trilha musical, nem diálogo, nem performance como geralmente é considerado. A análise de uma série de exemplos mostra que ter personagens cantando de forma realista tem uma variedade surpreendente de funções narrativas, dramáticas e estruturais. (Gorbman, 2011, pág 157, tradução livre). No filme cearense Inferninho (2018), de Pedro Diógenes e Guto Parente, a música é um elemento presente e importante para a narrativa como um catalisador de emoções e conflitos. Diegeticamente, a música se manifesta a partir das canções performadas pela cantora do bar (Luizianne) e seu tecladista (Richard) que reproduzem as composições de Rita de Cássia em um ritmo diferente do forró, lembrando um brega soturno e melodramático que são comumente executados em bares de esquina. O canto de Luizianne tem a pretensão de ser profissional, com o objetivo de efetuar um número musical para todos presentes, porém se interrompe diversas vezes para conversar com o público, canta a música modificando a letra, repete os mesmos versos, além de desafinar. Essas características se aproximam com o que Gorbman descrevia o canto amador autêntico, sendo essas com as imperfeições na voz, como a respiração vacilante e trêmula, notas falsas, o canto desconfortável, excesso de pausas, letras esquecidas ou erradas, entre outras características que nivelam amadorismo com autenticidade, e que fazem do canto uma expressão natural e sincera da personagem (2012, pág 26). Porém, no texto de Claudia Gorbman não há sequer um exemplo de canto amador que seja efetuado durante a performance de uma cantora profissional em atividade no seu ambiente de trabalho. Os exemplos mais próximos são sobre a performance de Watanabe, personagem de Viver (1952), que não é um profissional, mas canta acompanhado por um tecladista - assim, remetendo a Richard nesta análise - e a outra performance é a de Doris Day em O Homem que Sabia Demais (1956) Uma cantora aposentada performa para uma plateia com o intuito de alcançar seu filho (que está no andar superior), cantando a canção “Que sera, sera” não há intenção de profissionalismo, mesmo com a voz sendo afinada e agradável. E então, a partir da cena em que Luizianne canta “Tatuagem”, composição de Rita de Cássia, são analisadas todas as características do canto, as repetições de versos, o desafinar da cantora, a intenção de profissionalismo ao exercer o ofício para o público que responde em sentimento e postura para com a mensagem da canção romântica. Portanto, a pesquisa discute a existência de um meio termo entre o canto amador e o profissional, este seria o canto semi amador, pois este se aproxima mais do amadorismo, porém com intencionalidade e posicionamento de um canto profissional. |
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Bibliografia | Chion, Michel. Film, a sound art. New York: Columbia University Press, 2009. |