ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Contranarrativas antirracistas e ecosofias femininas(tas) |
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Autor | Karla Bessa |
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Resumo Expandido | Esta apresentação se insere, em uma conjuntura política conhecida como bolsonarismo, que promoveu uma guerra aos estudos e movimentos sociais em torno de pautas antirracistas, das lutas pelos territórios e culturas indígenas, dos gêneros e das sexualidades não normativas. Sao estratégias bolsonaristas a difusão popular do imaginário bélico, com a apologia às armas e a espetacularizaçao de gestos de truculência, bem como discursos de ódio. Inundou as mídias e as instituições como um todo, de imagens e narrativas audiovisuais que circularam em redes sociais, numa tentativa de normalizaçaoo e legitimação da violência. Tal contexto provocou a retomada de antigos debates feministas, e um deles, o da interrelação entre as violências de gênero e as outras violências, tais como contra o meio ambiente, contra povos originários, contra cultura, religiosidade e pessoas negras. Nesta apresentação, o foco não será no imaginário bolsonarista, mas na reinvenção de modos de enfrentamento e prevenção, atualizando o que nos estudos de cinema ficou conhecido como contranarrativas, ou, nos termos feministas, contra-cinema (Johnston, 1979). Atrelado ao tema do imaginário da violência está o das distopias, referenciado na proximidade com calamidades disseminadas em discursos científicos e que já se fazem notar no âmbito global, em torno do que está sendo chamado de Crise Climática. Na perspectiva decolonial, autorias latino-americanas mostram-se interessadas em articular um plano de bem viver, para o qual requer uma alternativa sistêmica de transformação e de decrescimento (Solon, 2019). Vários movimentos (feministas, indígenas, ribeirinhas, movimento de barragens, quilombolas, lgbtia+) atentaram-se para os inúmeros recursos da linguagem audiovisual, do poder das contranarrativas. Nesta comunicação recorro a duas frentes de diferentes escopo e abrangência, uma mais militante e com nichos mais específicos de produção e espectatorialidades e outra com foco no mercado audiovisual, porém com perfil popular-engajado (Bessa 2016), pautado por estéticas visuais e narrativas mais palatáveis para audiências de diferentes sensibilidades estético-políticas. Estou me referindo ao Instituto Catitu e a alguns projetos recentes de minisséries da Globo Play. Do Instituto Catitu, analisarei três produções: Quentura (Correa, 2018), Formação Audiovisual de Mulheres Indígenas (Corrêa e Diniz, 2015) e Yarang Mamim( Kamatxi Ykpeng, 2018). Estas produções possuem em comum, para além da plataforma gratuita de exibição, o trabalho conjunto entre indígenas e não indígenas e o foco na atuação de mulheres na produção, edição ou direção, além de trazer para tela narrativas onde são protagonistas. Da Globo Play, seguindo este mesmo contorno, apresentarei uma análise da recente minissérie sobre as Histórias Impossíveis (2022/2023), composta por cinco episódios independentes elaborados por Renata Martins, Jaqueline Souza e Grace Passô. A série tem como eixo narrativas femininas, de autorias negras e indígenas, estruturadas dentro do realismo mágico como estratégia estética de crítica social. Dessas produções e suas diferentes estratégias de produção e divulgação, retomarei o debate sobre imaginários ecosóficos feministas, noção que será abordada a partir dos textos do ecofeminismo latinoamericano contemporâneo (Milan, 2014 e Ferreira, 2022) e das contribuições de Guattari (1989) e Haraway (2016) ao debate. |
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Bibliografia | BESSA, K. Invisibilidades Queer no Circuito Cinematografico comercial da Grande Sao Paulo dos anos 2000. In: Rocha, M (Org). Cultura, Mídia e Mudança. Coleção Fábrica de Imagens. Fortaleza: Expressão Grafica e Editora. 2016. |