ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Relatos de um Fotograma |
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Autor | LUCIANA BUARQUE |
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Resumo Expandido | A proposta dessa apresentação é expor uma análise de vários relatos recolhidos de pessoas, de diferentes origens e áreas de conhecimento, sobre um fotograma pré-selecionado, recortado do filme Sudoeste. Mais do que simplesmente descrevê-lo, o desafio propunha que manifestassem suas impressões e expressassem suas percepções sobre a imagem definida. Esse viés metodológico pretendia apontar para as infinitas possibilidades discursivas e a multiplicidade de narrativas suscitadas por certas imagens congelados do filme. Como resultado, as várias vozes envolvidas na tarefa descortinaram o “terceiro sentido” impresso na imagem, muito além da obviedade da descrição de informações referentes a ações, personagens, cenários e objetos (BARTHES, 2009). A ideia de “leitura” um fotograma surgiu a partir do estudo das imagens no campo das passagens. As transformações tecno-artísticas na contemporaneidade têm chamado a atenção de pesquisadores, atentos à emergência de formatos híbridos, fruto do rompimento das fronteiras entre diferentes linguagens e mídias. Ao mesmo tempo, novos recursos tecnológicos de captação de imagem inspiram pesquisas sobre a flexibilização das configurações de temporalidade e mobilidade do instantâneo. O instante e a duração, a imobilidade e o movimento deixam de contrapor-se (DUBOIS, 2012). Nesse contexto, o fotograma estabelece-se em uma dimensão intermediária, em um lugar de transição entre a continuidade e imprevisto, o particular e a totalidade, no “entretempo da imagem fixa e da imagem-movimento” (BELLOUR, 1997. p.12). Não o fotograma tomado isoladamente, como materialidade, elemento imóvel e efémero. Mas sim o conteúdo imagético, um devir-fotograma genético, origem da imagem fílmica, pronto para dar início ao movimento, uma potência, ponte entre campos de forças temporais e de movimento cinematográficos (CARVALHO, 2010). O olhar, por sua vez, também se remodela, ante a ruptura da dicotomia entre fotografia e cinema e a superação de determinismos tecnológicos, históricos e estéticos (PARENTE, 2009). Formas de ver e perceber, até então submetidas a um modelo hegemônico de apreciação artística, ressignificam-se. A relação entre o observador e a imagem, antes baseada na contemplação, transforma-se em experiência. Eventos artísticos demandam um espectador participativo, induzindo-o a novas relações perceptivas e de construções de subjetividade. A delimitação específica dos fotogramas de Sudoeste, como fonte de “leitura”, deve-se às suas configurações particulares e sua capacidade de conduzir o espectador a um envolvimento sensorial, para além do conhecimento inteligível. Há um dinamismo, uma duração, um desdobramento infinito – como um fractal de nano eventos – em sua temporalidade. Suas composições visuais, por sua vez, inspiram o olhar a vaguear por sua superfície de forma circular, em direções cruzadas, mesclando o antes ao depois (FLUSSER, 2009). Em seus enquadramentos, vestígios do passado atropelam o presente, desafiando as formas de percepção de representação do real. É sobre o olhar do outro em relação às imagens, que essa pesquisa se debruça. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Entre-imagens: Foto, cinema, vídeo. São Paulo: Papirus, 1997 |