ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | EDUCAÇÃO DIGITAL MODO DE USAR |
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Autor | caroline montezi de castro chamusca |
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Resumo Expandido | Diante da Era Digital, uma das alcunhas da atualidade, devido ao caráter ubíquo do digital no cotidiano, que vaza (INGOLD, 2012) dos dispositivos tecnológicos, uma Política Nacional de Educação Digital (PNED) foi sancionada no Brasil, no início de 2023. A Lei 14.533/23 tem como objetivo ampliar e aprimorar o acesso da população brasileira a recursos, ferramentas e práticas digitais, com ênfase nas comunidades mais vulneráveis. A iniciativa estabelece diretrizes para a inclusão digital, educação digital nas escolas, treinamento e especialização em habilidades digitais, além de promover pesquisa e desenvolvimento em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Não há dúvida sobre a importância de ampliar as possibilidades de inclusão digital, porém o texto da lei revela uma concepção limitada do termo, agenciada à ideia de modernidade e progresso. Diante desse cenário, este trabalho propõe pensar o cinema na escola como possibilidade de promover uma educação digital para além do caráter instrumentalista que essa política enuncia. É baseado em fatos reais e livremente inspirado no livro A Vida Modo de Usar (2009), escrito pelo romancista e poeta Georges Perec (1936-1982). Embora o nome do livro sugira abordar recomendações e indicações de como usar a vida, soando como uma espécie de autoajuda, trata-se de um romance fractal, um quebra-cabeça via ficção. O livro traz uma série de histórias inter-relacionadas de pessoas que moram em um mesmo prédio. Em cada capítulo, Perec (2009) se impõe de variadas regras e lógicas matemáticas para construir o texto orientado por uma série de tabelas (cahier des charges) que indicam determinados critérios que serão utilizados na configuração de cada apartamento. Perec foi integrante do movimento literário OULIPO, sigla que do francês se traduz como oficina/atelier de literatura potencial. Assim como Perec, os integrantes do OULIPO escrevem sob a imposição de regras que trazem alguns desafios, um exercício literário que através de limites inventados pelos próprios autores expandem as possibilidades de leitura e escrita. Um texto que se constrói para ser desmontado por meio de enigmas que revelam as suas vísceras. É essa operação que atua através de algoritmos analógicos que vão compondo os personagens, os seus movimentos e toda materialidade que integra as paisagens dos apartamentos, é o modo de usar que esse trabalho evoca. O modo de usar a educação digital através de exercícios de cinema que acionam regras e limites como dispositivo para criação de um inventário audiovisual das escolas. A ideia é propor espaços de suspensão que tensionem a forma/escola e a forma/cinema convocando os estudantes a desmontar esses modelos (RANCIERE, 2015) e diluir as amarras da transparência (GLISSANT, 2021) que impregna o campo da educação. É uma aposta na dimensão criadora do cinema, como uma possibilidade de engajar os estudantes a não apenas refletir sobre o mundo, mas também a inventar mundos e formas de vida. um movimento fundamental, principalmente em tempos de intensa submissão a uma curadoria dos algoritmos. Investe na artesania aliada à tecnologia como modo de operar com a educação digital de maneira inventiva através do cinema na escola. (FRESQUET e ALVARENGA, 2023) Assim como a entrada do cinema na escola pode tensionar as normas e deslocar as conversas com a educação, a escola fazendo cinema também pode provocar o cinema a se repensar enquanto cinema, desnaturalizando cânones e desmontando suas práticas (PIPANO, 2019). Nesse sentido, esse trabalho convoca uma educação digital que embaralhe as fronteiras de arquivo, cinema e escola, que atue na criação de um acervo audiovisual realizado por estudantes. O que pode acontecer quando os estudantes se apropriam de tecnologias digitais e analógicas na realização de filmes em suas escolas? |
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Bibliografia | BRASIL. Lei 14.533, de 11 de janeiro de 2023. D. O. U. de 11 jan. 2023. |