ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Compondo personagens: a música em “Pobres Criaturas” |
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Autor | Amanda de Luna Cavalcanti |
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Resumo Expandido | A partir de uma proposta estética que dialoga com o pitoresco, Pobres Criaturas (Poor Things, Yorgos Lanthimos, 2023) apresenta a composição de um mundo com notas de surrealismo. Um dos elementos que pode vir a enfatizar essa noção é a trilha musical constituída pela mistura entre o clássico e o eletrônico, que tangenciam um anacronismo e um desafio à razão próximo à percepção surrealista que se condensa não apenas na ambientação do universo, mas da própria subversão proposta na essência e motivação de seus personagens, sobretudo Bella Baxter, interpretada por Emma Stone. Composta pelo músico Jerskin Fendrix, a concepção da música em Pobres Criaturas teve como um dos objetivos conceber a vulnerabilidade emocional de seus personagens por meio do paradigma não-verbal (SHACHAT, 2023). Através do uso majoritário de instrumentos de sopro, de vozes sintetizadas e sussurros, a trilha de Fendrix, apesar de colocada diante de um cinema sonoro verbocêntrico, sugere promover uma percepção que se volta a favor de uma experiência que se apropria das emoções, exercendo um valor narrativo fundante na constituição de seus personagens. Com base nesse raciocínio, o presente trabalho propõe analisar a trilha musical do filme Pobres Criaturas (Poor Things, Yorgos Lanthimos, 2023), observando a articulação do som na composição de seus personagens. Detendo-se sobre a relação entre música, imagem e narratividade, pretendendo-se compreender o papel musical na constituição do eu e na representação de seus desejos e emoções. Para Claudia Gorbman, em conjunto com as contribuições de Buhler (2019, pg. 159), são sete os princípios que identifica como práticas gerais do sistema clássico na composição musical e mixagem de som em suas funções narrativas. De forma segmentada, basicamente tem-se como pressupostos: i. a submissão do som à narrativa; ii. a sincronização do som à narrativa; e iii. a vinculação de sons, mesmo díspares, à estrutura narrativa, constituindo a noção de unidade como fundamental para a formação narrativa. Para tanto, leva-se em conta a noção de som fora do quadro de Chion (2008), pretendendo-se observar como a música mesmo fora da diegese pode articular a narrativa acrescentando valor à camada emocional não apenas do espectador, mas do próprio personagem. Embora não conscientes dos órgãos de tubos e flautas de Fendrix, quer-se observar de que maneira os personagens compartilham ou emulam as experiências sonoras da trilha musical a partir das representações de seus desejos e emoções. Aplicando tal pretensão, propõe-se analisar cronologicamente os momentos em que as faixas musicais ecoam no filme, observando-se as gradações da estética sonora proposta em comparação ao desenvolvimento narrativo do eu do personagem. Considerando-se as peculiaridades do imaginário e tópicas comum ao gênero ficção científica (OLIVEIRA, 2018), na medida em que Bella Baxter evolui não apenas sua coordenação motora, mas amadurece enquanto sujeito, questiona-se como o acompanhamento musical traduz e significa a descoberta da identidade. |
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Bibliografia | BUHLER, James. Theories of Soundtrack. New York: Oxford University Press, 2019. |