ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | O conceito de Tercer Cine e as críticas ao cinema novo brasileiro |
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Autor | Paulo Victor de Oliveira Costa |
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Resumo Expandido | Os anos 60 foram transformadores no que diz respeito ao cinema. Diferentes movimentos despontaram ao redor do mundo com propostas estéticas, narrativas e de linguagem inovadoras. Muitos desses estabeleceram uma ruptura com modelos hegemônicos de produção cinematográfica. Principalmente na América Latina, cujo contexto ainda envolvia uma conjuntura política complexa, marcada por golpes militares. A partir desta contextualização, esta comunicação vai focar em dois países: Brasil e Argentina. Ambos passavam por um cenário de instabilidade política, econômica e social. No Brasil, uma nova geração de cineastas despontou na década de 60, fruto de uma conjunção de um período político do projeto nacional-populista de João Goulart com foco nas chamadas “Reformas de Base” e de um momento pós-fracasso da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Paulo, símbolo da industrialização do cinema no Brasil nos anos 50. Assim, o grupo, formado por Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Leon Hirszman, Paulo César Saraceni, entre outros, começou a apostar em uma produção independente — em oposição à lógica industrial/comercial — com uma postura crítica e conscientizadora, seguindo a linha do “cinema de autor” tão em voga na Europa, especialmente na França com a Nouvelle Vague. Já na Argentina, o grupo Cine Liberación — cujos principais expoentes foram Fernando Solanas e Octavio Getino — apresentaram em 1968 um documentário político de grande repercussão internacional. Trata-se de “La Hora de Los Hornos”, cuja exibição foi proibida na Argentina, que vivia um período de intensa repressão e censura com o governo de Juan Carlos Onganía. Mesmo assim, o documentário norteou todas as experiências de produção, distribuição e exibição clandestinas do Grupo Cine Liberación. A partir dessas experiências, Solanas e Getino publicaram na Revista Tricontinental um manifesto intitulado “Hacia un Tercer Cine”, em que expressaram suas críticas ao modelo de cinema dominante dos EUA e da Europa, estabeleceram que o cinema estaria dividido em três modelos e apresentaram o conceito de cinema militante. Neste sentido, o Primer Cine seria a reprodução das principais características de um cinema imperialista, um modelo que visava a comercialização dos filmes e o lucro. O Segundo Cine tinha como ambição alcançar um certo patamar de liberdade criativa nos filmes, uma vez que o cinema industrial/comercial não permitia a adoção de uma posição mais autoral por parte dos cineastas. No entanto, esse modelo — também denominado “cinema de autor” — , por mais que fosse uma oposição ao Primer Cine, atuava no interior deste mesmo sistema, ou seja, uma contradição. Finalmente, o Tercer Cine representa um enfrentamento não apenas ao Primer Cine, mas também ao Sistema Imperialista ao qual esse pertence. Este terceiro modelo também reforça o caráter político do cinema, uma ferramenta de transformação social subversiva e revolucionária. Um cinema, de acordo com Solanas e Getino, “militante”. Por não se encaixar nas estruturas do sistema dominante, o Tercer Cine recorria a sistemas alternativos e clandestinos. Dessa forma, o grupo Cine Liberación relacionava diretamente o cinema novo brasileiro à categoria Segundo Cine e, portanto, tecia uma série de críticas a ele. Essas diziam respeito, não apenas à lógica do “cinema de autor” inspirado numa visão europeia, mas sobretudo, a aspectos de financiamento, produção, distribuição e exibição, desenvolvidos no interior do sistema do Primer Cine, ou seja, uma posição equivocada na visão de Solanas e Getino. Considerando o breve contexto apresentado, esta comunicação tem duas propostas. Primeiramente, destrinchar o conceito de Tercer Cine, cuja categoria mais avançada é o cinema militante. Em segundo lugar, expor como o cinema novo brasileiro se encaixa no conceito de Segundo Cine, criticado por Fernando Solanas e Octavio Getino. |
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Bibliografia | AUTRAN, A. O Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro. São Paulo: HUCITEC Editora, 2013. |