ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Para além das plataformas: um olhar ampliado sobre a TV no Brasil |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Resumo Expandido | No início de seu livro "Television and American Culture" (2010), Jason Mittel discute a evolução da televisão nos Estados Unidos ao longo de diferentes eras. Ele argumenta que embora seja difícil categorizar a TV em eras distintas devido à sua complexidade histórica, é vital reconhecer as mudanças significativas que o meio passou ao longo do tempo. Mittel propõe uma periodização que inclui três eras principais: a Era Clássica das Redes, que estabeleceu, entre as décadas de 1940 a 1980, normas e processos vigentes até hoje; a Era Multi-canal, caracterizada pela segmentação introduzida pela TV a cabo, a transição entre as grandes redes nacionais e as novas tecnologias de programação a cabo e por satélite; e a Era da Convergência, marcada pela ascensão dos meios digitais e desafios à televisão tradicional. Para Mittel, ainda na primeira década dos anos 2000, essa convergência tecnológica nos forçaria a questionar os modelos econômicos tanto do broadcast quanto da televisão multi-canal, enquanto os espectadores tomariam o controle. Nas últimas décadas, a estrutura industrial da televisão experimentou substantivas transformações em virtude de importantes mudanças tecnológicas, econômicas e culturais. Seu caráter inicial de meio generalista e massivo adquiriu novas formas: novos suportes que ampliam e multiplicam as possibilidades de levar sinais ao espectador, digitalização e compressão de imagem e som que incrementam o volume, a qualidade e a velocidade do que é transmitido, audiências que se segmentam em função de gosto e poder aquisitivo e novas formas de financiamento que se somam aos recursos tradicionais são algumas das características que definem a chamada “televisão posfordista”. Da mesma forma que o crescimento do sistema de cabo nos anos 90 constitui, sem dúvidas, um dos fenômenos que mais se destaca entre as inovações vinculadas à televisão, o streaming tem levado essas transformações para outra escala. A experiência de assistir a conteúdos audiovisuais por streaming trouxe para a vida dos espectadores brasileiros novos mediadores de acesso e, aos sistemas de recomendação tradicionais, somam-se os algoritmos, novos aparelhos que permitem uma melhor interação com os diversos conteúdos e aplicativos, agregadores que prometem a solução para a grande oferta de plataformas e soluções que oferecem economia e facilidade na gestão de assinaturas, além do desenvolvimento de um ecossistema midiático complexo do qual fazem parte a TV linear aberta, canais por assinatura, plataformas de streaming, das gigantes internacionais às menores, ligadas à programação linear de diferentes canais abertos, e até mesmo as redes sociais. Se a convergência de diferentes mídias se torna uma estratégia das grandes corporações, isso acontece porque os consumidores aprenderam novas formas de interagir com o conteúdo que encontram. De acordo com Jenkins (2008, p.44), a convergência é “tanto um processo corporativo, de cima para baixo, quanto um processo de consumidor, de baixo para cima”. Para ele, “a convergência corporativa coexiste com a convergência alternativa”. As ferramentas tecnológicas afetam não apenas a disseminação e a recepção, mas também a produção e a interação entre os usuários. As mesmas tecnologias que possibilitaram a participação dos consumidores no conteúdo midiático também alteraram os padrões de consumo. Sem qualquer intenção de reescrever a história da TV ou isolar o fenômeno do streaming de um contexto maior, esse trabalho busca refletir sobre como tem se relacionado, no Brasil, esse ecossistema midiático do qual fazem parte as TVs lineares, aberta e por assinatura, a internet e as plataformas de streaming diante dos novos hábitos dos consumidores, da estrutura de um mercado cada vez mais fragmentado e internacionalizado e da falta de uma regulamentação adequada que dê conta dessas relações. |
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Bibliografia | BOLAÑO, C. Mercado brasileiro de televisão. São Paulo: Educ, 2004. |