ISBN: 978-65-86495-09-6
Título | Godard, autoria e créditos |
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Autor | Matheus Gonçalves Ferreira |
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Resumo Expandido | Acossado (A bout de souffle, 1960), de Jean-Luc Godard, então conhecido como um dos críticos que, ao longo da década de 50, idealizaram e defenderam a “política dos autores”, é sua estreia como realizador de longas-metragens. Acossado é visto por um grande público nas salas de maior prestígio comercial da capital francesa e se torna, imediatamente, um dos títulos de maior sucesso comercial e artístico da Nouvelle Vague (MARIE, 2011). O filme, no entanto, para além de suas peculiaridades estéticas, que o distanciavam do cinema francês contemporâneo, incluindo os já distribuídos filmes de Claude Chabrol e François Truffaut, companheiros de crítica e Nouvelle, se apresentava na tela com uma primeira cartela que dizia: “Este filme é dedicado a Monogram Pictures” e uma segunda que apenas assinalava seu título e o número de visto de exibição (VIOTA, 2023). Não constavam créditos em seus noventa minutos de duração, estando excluídos de Acossado os nomes do seu diretor, produtores, equipe técnica e mesmo dos seus dois atores principais, constando apenas uma referência a um pequeno estúdio hollywoodiano de filmes B, desconhecido da maior parte do público. Este procedimento, por um lado, parece ter a pretensão de fazer com que, ao menos a princípio, este filme se passe como mais um filme policial dentre outros, sem indicar nem mesmo sua nacionalidade, como que guardando uma espécie de indefinição por trás da sua feitura e apresentando o filme simplesmente como um produto das suas imagens, sem autoria. Por outro lado, na sequência da filmografia de Godard se fará cada vez mais presente um trabalho especialmente dedicado a elaboração de sequências de créditos, sempre concebidas e realizadas pelo cineasta (DUBOIS, 2004). Alguns exemplos são os créditos ditos em voz alta pelo cineasta em Le Mépris (1963), apresentados em uma montagem rápida sobre o rosto dos três atores protagonistas em Bande a Part (1964), ou as informações pouco a pouco “acesas” sobre o fundo preto da tela, como letreiros luminosos urbanos, em Pierrot Le Fou (1965). É sob uma lógica semelhante que se estruturam os trailers dos seus filmes (HEDIGER, 2004). Esta comunicação, então, pretende investigar o paradoxo do pretenso anonimato de um dos filmes que lançaram a era do “cinema de autor” e o sentido de sua associação com um pequeno estúdio de filmes B. Em seguida, analisando alguns destes segmentos, demonstrarei como este gesto constitui por si só uma imposição das escolhas de Godard sobre o filme, que nos anos posteriores fará das sequências de créditos iniciais, mais do que apenas a indicação das pessoas que trabalharam no filme, um momento importante de sua assinatura artística, de acordo com a proposta estética de cada filme. |
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Bibliografia | DUBOIS, Philippe. Jean-Luc Godard e a parte maldita da escrita. In. Cinema, Vídeo, |